Nem tudo são más notícias, em termos gramaticais.
Em português, é muito difícil uma pessoa ir à falência.
Justifico esta ideia com a seguinte teoria fascinante:
normalmente, considera-se que o verbo falir é defectivo.
Significa isso que lhe faltam algumas pessoas,
designadamente a primeira, a segunda e a terceira do
singular e a terceira do plural do presente do indicativo e
todas as do presente do conjuntivo. Não se diz “eu falo”,
“tu fales”, nem “ele fale”. Não se diz “eles falem”.
Todos os modos e tempos verbais do verbo falir se
admitem, com exceção de quatro pessoas do presente
do indicativo e todo o presente do conjuntivo. Em que
medida é que isso é bom? [...] Não é possível falir,
presentemente, no Brasil.
“Eu falo” é uma declaração ilegítima. Podemos aventar
a hipótese de vir a falir, porque “eu falirei” é uma forma
aceitável do verbo falir. E quem já tiver falido não tem
salvação, porque também é perfeitamente legítimo
afirmar: “eu fali”. Mas ninguém pode dizer que, neste
momento, fale.
Acaba por ser justo que o verbo falir registre essas
falências na conjugação. Justo e útil, sobretudo em
tempos de crise. Basta que os brasileiros vivam no
presente — que, além do mais, é dos melhores tempos
para se viver — para que não falam (outra conjugação
impossível).
Não deixa de ser misterioso que a língua portuguesa
permita que, no passado, se possa ter falido e até que
se possa vir a falir, no futuro, ao mesmo tempo que
inviabiliza que se fala, no presente. Se eu nunca falo,
como posso ter falido? Se ninguém fale, por que antever
que alguém falirá?
PEREIRA, Ricardo Araújo. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2020. [Fragmento]
Em tom humorístico, o autor defende, em seu texto,
o fato de que, sendo o verbo falir defectivo,
A) contribui para a atual crise, por ser ilegítima sua
conjugação.
B) gera preconceito linguístico em relação ao uso
desse verbo.
C) faz com que, no presente, nenhum brasileiro
possa falir.
D) leva qualquer brasileiro à falência no futuro do
presente.
A resposta no gabarito é a letra B, mais pq?
Nem tudo são más notícias, em termos gramaticais.
Em português, é muito difícil uma pessoa ir à falência.
Justifico esta ideia com a seguinte teoria fascinante:
normalmente, considera-se que o verbo falir é defectivo.
Significa isso que lhe faltam algumas pessoas,
designadamente a primeira, a segunda e a terceira do
singular e a terceira do plural do presente do indicativo e
todas as do presente do conjuntivo. Não se diz “eu falo”,
“tu fales”, nem “ele fale”. Não se diz “eles falem”.
Todos os modos e tempos verbais do verbo falir se
admitem, com exceção de quatro pessoas do presente
do indicativo e todo o presente do conjuntivo. Em que
medida é que isso é bom? [...] Não é possível falir,
presentemente, no Brasil.
“Eu falo” é uma declaração ilegítima. Podemos aventar
a hipótese de vir a falir, porque “eu falirei” é uma forma
aceitável do verbo falir. E quem já tiver falido não tem
salvação, porque também é perfeitamente legítimo
afirmar: “eu fali”. Mas ninguém pode dizer que, neste
momento, fale.
Acaba por ser justo que o verbo falir registre essas
falências na conjugação. Justo e útil, sobretudo em
tempos de crise. Basta que os brasileiros vivam no
presente — que, além do mais, é dos melhores tempos
para se viver — para que não falam (outra conjugação
impossível).
Não deixa de ser misterioso que a língua portuguesa
permita que, no passado, se possa ter falido e até que
se possa vir a falir, no futuro, ao mesmo tempo que
inviabiliza que se fala, no presente. Se eu nunca falo,
como posso ter falido? Se ninguém fale, por que antever
que alguém falirá?
PEREIRA, Ricardo Araújo. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2020. [Fragmento]
Em tom humorístico, o autor defende, em seu texto, o fato de que, sendo o verbo falir defectivo:
A) Contribui para a atual crise, por ser ilegítima sua conjugação. ( )
B) Gera preconceito linguístico em relação ao uso desse verbo. (X)
C) Faz com que, no presente, nenhum brasileiro possa falir. ( )
D) Leva qualquer brasileiro à falência no futuro do presente. ( )
A resposta no gabarito é a letra B, mas pq?
Resposta:
Porque gera, de fato (fato gramatical, mas não jurídico) um preconceito em relação ao verbo FALIR, em virtude de sua classificação como DEFECTIVO e pela dificuldade e especificidade nas flexões nos mais diversos tempos verbais, o que, aliás, costuma ocorrer com todos os verbos classificados como defectivos.
Explicação:
Satisfaz a explicaçãp?
Post a Comment for "Nem tudo são más notícias, em termos gramaticais. Em português, é muito difícil uma pessoa ir à falência. Justifico esta ideia com a seguinte teoria fascinante: normalmente, considera-se que o verbo falir é defectivo. Significa isso que lhe faltam algumas pessoas, designadamente a primeira, a segunda e a terceira do singular e a terceira do plural do presente do indicativo e todas as do presente do conjuntivo. Não se diz “eu falo”, “tu fales”, nem “ele fale”. Não se diz “eles falem”. Todos os modos e tempos verbais do verbo falir se admitem, com exceção de quatro pessoas do presente do indicativo e todo o presente do conjuntivo. Em que medida é que isso é bom? [...] Não é possível falir, presentemente, no Brasil. “Eu falo” é uma declaração ilegítima. Podemos aventar a hipótese de vir a falir, porque “eu falirei” é uma forma aceitável do verbo falir. E quem já tiver falido não tem salvação, porque também é perfeitamente legítimo afirmar: “eu fali”. Mas ninguém pode dizer que, neste momento, fale. Acaba por ser justo que o verbo falir registre essas falências na conjugação. Justo e útil, sobretudo em tempos de crise. Basta que os brasileiros vivam no presente — que, além do mais, é dos melhores tempos para se viver — para que não falam (outra conjugação impossível). Não deixa de ser misterioso que a língua portuguesa permita que, no passado, se possa ter falido e até que se possa vir a falir, no futuro, ao mesmo tempo que inviabiliza que se fala, no presente. Se eu nunca falo, como posso ter falido? Se ninguém fale, por que antever que alguém falirá? PEREIRA, Ricardo Araújo. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2020. [Fragmento] Em tom humorístico, o autor defende, em seu texto, o fato de que, sendo o verbo falir defectivo, A) contribui para a atual crise, por ser ilegítima sua conjugação. B) gera preconceito linguístico em relação ao uso desse verbo. C) faz com que, no presente, nenhum brasileiro possa falir. D) leva qualquer brasileiro à falência no futuro do presente. A resposta no gabarito é a letra B, mais pq?"